20 setembro, 2006

DIRETRIZES CURRICULARES

DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO MÉDIO DO MARANHÃO

PARTE IV – CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS

Considerações Preliminares

As Ciências Humanas desenvolveram-se a partir do século XIX com o advento das grandes mudanças político-econômicas e culturais, as quais ocorreram com o novo modo de produção capitalista. As Ciências Humanas são compostas de diversos saberes que objetivam situar e conhecer o homem, a fim de instrumentalizá-lo na análise e ação sobre a realidade.
Superando o paradigma positivista, as ciências humanas, a partir da postura dialética, busca a síntese entre o humanismo, ciência e tecnologia. Além disso, as DCNEM prevêem uma organização escolar pautada nos princípios estéticos, políticos e éticos, mediante a retomada a uma educação humanista.
De acordo com o Art. 26, da LDB 9.394/96, a organização do Ensino Fundamental e Médio deve constituir-se de uma base nacional comum e uma parte diversificada. O parágrafo 1º inclui, obrigatoriamente, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política especialmente do Brasil, abordagens importantes para a área das Ciências Humanas e suas Tecnologias. O parágrafo 4º do referido Artigo trata do ensino da História do Brasil que “levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígenas, africanas e européia”. É na seção IV, Art. 36, LDB, que estão definidas as diretrizes, dando destaque à educação tecnológica básica, à compreensão do significado da ciência, letras e arte, o processo histórico das mudanças sociais em seus contextos culturais, o uso da língua materna na comunicação e o acesso ao conhecimento e ao desenvolvimento da cidadania.
Importa observar ainda, que o Art. 27 da LDB determina diretrizes a serem consideradas na definição dos conteúdos da Educação Básica. As diretrizes pedagógicas: identidade, diversidade, autonomia, competências básicas, interdisciplinaridade e contextualização, propostos pelas DCNEM, norteiam o currículo, a postura de tratamento do conhecimento e as formas de ensinar e aprender, de modo significativo, articulado e integrado, capaz de superar as práticas tradicionais da fragmentação.
Relevância especial far-se-á no item II do Art. 36 da LDB, que trata das diretrizes para a formulação dos currículos e afirma que “adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes”. Iniciativa traduzida, na participação significativa dos adolescentes como sujeitos de direitos, com identidades próprias, estando a escola aberta à cultura juvenil, possibilitando diferentes formas de protagonismo, a serem previstas no Projeto Político-Pedagógico e no regimento escolar. O currículo para jovens do Ensino Médio, na área das Ciências Humanas e suas Tecnologias tratará, à luz das pedagogias humanizadoras, das condições e necessidades de espaço e tempo de aprendizagem” bem como do “...uso de várias possibilidades pedagógicas de organização...” de que trata o Art.º 7, item I, alíneas a e b – da LDB. Assim, objetiva a inclusão do educando num esforço permanente de aprendizagem dos conhecimentos desta área, desenvolvendo competências e valorizando o processo de tal modo a eliminar a evasão e repetência.
É mister que o conhecimento contribua para a formação de competências do sujeito histórico, individual e coletivo, transformador de sua vida e do meio. É importante afirmar que a reconstrução de significados e conceitos requer a aplicação consciente das diretrizes explicitadas no parágrafo anterior, as quais basearam-se nos princípios estéticos, políticos e éticos. Estes princípios vêm imprimindo novo sentido às políticas públicas educacionais no desenvolvimento de uma prática democrática de gestão administrativa e pedagógica; de aplicação dos financiamentos da educação; da organização curricular, e os seus desdobramentos de ensinar e aprender; e das formas mediadoras de avaliação qualitativa que considerem o respeito à diversidade de ser, conhecer e fazer.
A Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio configura-se pelos conhecimentos de História, Geografia, Antropologia, Psicologia, Direito, Sociologia e Filosofia, sendo os dois últimos “necessários do exercício da cidadania” (BRASIL, 1999, p. 92). Estes conhecimentos deverão ser trabalhados em todas as disciplinas que compõem a área, cabendo ao professor, por meio do planejamento, estabelecer as relações entre os conhecimentos e as disciplinas.
O Estado do Maranhão, seguindo as orientações legais vigentes e, por considerar relevantes para a construção de um currículo voltado para a formação da cidadania juvenil, organizou a área em 04 (quatro) disciplinas: História, Geografia, Sociologia e Filosofia. Estas devem desenvolver competências básicas com flexibilidade na organização dos conteúdos, adequabilidade às metodologias propiciadoras da construção e ressignificação de conhecimentos trabalhados em programas, projetos e atividades. Para tanto é necessária a utilização de métodos que sirvam ao propósito da convivência e da autonomia na produção do saber sistematizado na escola.
O ensino das Ciências Humanas e suas Tecnologias, segundo os PCNEM, “deverá desenvolver a compreensão do significado da identidade, da sociedade e da cultura, que configuram os campos de conhecimentos das disciplinas desta área” (BRASIL, 1999). Os conhecimentos que compõem o currículo escolar devem estar de acordo com o Projeto Político-Pedagógico de cada escola, no qual se deve evitar a supervalorização dessa ou daquela área ou disciplina, selecionando conteúdos significativos para a formação das competências básicas pretendidas.
Deve-se levar em conta, também, os interesses dos educandos e da sociedade de modo a reforçar a função social da escola, a qual não deve ignorar as contradições existentes que geram exclusão social imposta pelo modelo econômico, que gera, no Estado, trabalho infantil e semi-escravo, desemprego, violência, com conseqüente aumento da marginalização da sociedade, inibindo a possibilidade de inserção no mercado de trabalho. As contradições presentes deverão estar contempladas no currículo escolar, além das vocações econômicas dos pólos econômicos do maranhão como: turismo, madeireiro, coureiro, pecuário e outros.
Um dos desafios do ensino das Ciências Humanas e suas Tecnologias é contemplar as angústias da sociedade brasileira, na dimensão da história crítica e na projeção do futuro, no mundo conseqüente, do qual o aluno é parte, e requer da educação o seu pleno desenvolvimento como cidadão e profissional que se inserirá no mundo do trabalho, cujas relações complexas se configuram em novas ordens. A educação deve, ainda, possibilitar que a sociedade brasileira construa “condições para fazer-se nação mais soberana e conquistar espaço com as suas próprias capacidades no cenário internacional ...” (SANTOS, 2002).
A globalização traz consigo o rompimento de fronteiras espaciais e a migração de jovens para onde o trabalho está. Além disso, o avanço tecnológico cria profissões inovadoras e elimina outras já conhecidas, colocando o homem frente a novas culturas e interagindo com elas, em busca do seu espaço qualitativo na sociedade. Entretanto a vocação científica do País não deve apenas “reproduzir o saber já elaborado em forma de tecnologias nos centros mais avançados do primeiro mundo, porquanto, na ordem colocada pelos países do centro capitalista” (SANTOS, 2002).
Para a continuação do processo de formação do educando e o exercício pleno de seus deveres de cidadão, o Ensino Médio tem uma grande responsabilidade, no sentido de possibilitar uma visão ética, autonomia intelectual e pensamento crítico. Segundo as DCNEM “deverá desenvolver a compreensão do significado da identidade, da sociedade e da cultura...” (BRASIL, 1999, p. 92).
Para responder a estas finalidades da área, as competências apresentam-se então, como possibilidades a serem trabalhadas na formação do educando, diante da necessidade que tem a escola em sintetizar o humanismo, ciências e tecnologias, elementos indispensáveis na construção da sociedade atual.
Neste prisma, competência, conforme conceitua Perrenoud (2001), é a “capacidade de um sujeito mobilizar o todo ou parte de seus recursos cognitivos e afetivos para enfrentar uma família de situações complexas”. Diz respeito, portanto, à mobilização de recursos para a solução de problemas. As competências se formam a partir de conhecimentos construídos e ressignificados, extrapolando o âmbito das disciplinas, utilizando procedimentos metodológicos e recursos variados, acionados em busca da resolução de situações novas.
Importa ressaltar que, no currículo, são as competências que atraem a escolha de conteúdos e não o inverso. A atual ênfase no ensino recai no significado daquilo que o educando irá aprender para a vida, de como acessar as informações que formarão o conhecimento, de maneira a apropriar-se delas, reconstruí-las, comunicá-las, contextualizá-las e utilizá-las nas situações de desafio do cotidiano da escola e fora dela, fazendo uso das competências.
A Resolução CEB/ n.º 3/98, estabelece no item III, do Art.º 10 (BRASIL, 1999, p. 102), os seguintes objetivos para a área das Ciências Humanas e suas Tecnologias.

a) Compreender os elementos cognitivos, afetivos, sociais e culturais que constituem a identidade própria e dos outros.
b) Compreender a sociedade, sua gênese e transformação e os múltiplos fatores que nela intervém, como produtos da ação humana; a si mesmo como agente social, e os processos sociais como orientadores da dinâmica dos diferentes grupos de indivíduos.
c) Compreender o desenvolvimento da sociedade como processo de ocupação de espaços físicos e as relações da vida humana com a paisagem, em seus desdobramentos político-sociais, culturais, econômicos e humanos.
d) Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as às práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos princípios que regulam a convivência em sociedade, aos direitos e deveres da cidadania, à justiça e à distribuição dos benefícios econômicos.
e) Traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade, a economia, as práticas sociais e culturais em condutas de indagação, análise, problematização e protagonismo diante de situações novas, problemas ou questões da vida pessoal, social, política, econômica e cultural.
f) Entender os princípios das tecnologias associadas ao conhecimento do indivíduo, da sociedade e da cultura, entre as quais as de planejamento, organização, gestão, trabalho de equipe, e associá-los aos problemas que se propõe resolver.
g) Entender o impacto das tecnologias associadas às ciências humanas sobre sua vida pessoal, os processos de produção, o desenvolvimento do conhecimento e a vida social.
h) Entender a importância das tecnologias contemporâneas de comunicação e informação para o planejamento, gestão, organização, fortalecimento do trabalho de equipe.
i) Aplicar as tecnologias das ciências humanas e sociais na escola, no trabalho e outros contextos relevantes para sua vida.

No que diz respeito à utilização das tecnologias na educação humanista, mais do que nunca precisa estar ligada ao senso ético, no sentido de possibilitar ao educando o uso permanente da crítica para compreensão dos avanços científicos e tecnológicos, possibilitando a aquisição e reformulação dos conhecimentos, no trabalho e na vida social. Cabe, pois, à escola, a definição de estratégias, em seu planejamento, que otimizem o uso de diversas tecnologias, disponibilizando ao educando o contato com elas, de modo a ter domínio em sua aplicação.
No tratamento dos conhecimentos da Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, recomenda-se o uso de metodologias diversificadas que propiciem a formação de competências. É urgente superar o monólogo da aula expositiva de quadro e giz, adotando técnicas e dinâmicas de grupo que possibilitem ao educando vivenciar atividades de socialização, coordenação, registros e avaliação que minimizem, na sala de aula, a competição negativa e a estratificação dos alunos pelo saber.
Dentre as formas de trabalhar as competências, por meio dos conhecimentos de cada disciplina integrante da área, o professor lançará mão da produção textual, da exploração intertextual, de livros didáticos, mapas, maquetes, fotografias, jornais, periódicos, paradidáticos, materiais disponíveis nas bibliotecas virtuais, intercâmbio de experiências, saberes virtuais, de conferências e similares, excursões e visitas a logradouros culturais e de informação, entrevistas, uso de laboratórios e projetos pedagógicos.
O projeto didático, como metodologia, é uma forma de articular os diversos saberes, favorecendo ações diante das incertezas, da solidariedade com o outro, da valorização da diversidade de ser, pensar, fazer e agir das pessoas, das mediações e da cidadania, estimulando a participação política, econômica e cultural dos jovens. Eliminam-se, assim, tarefas simples, repetidas ano a ano, totalmente previsíveis, e trabalha-se o complexo, ensinando aprender a aprender pelos desafios apresentados, concedendo autonomia intelectual ao educando, estimulando a formação de sua identidade como sujeito produtivo. Na proposição de projetos os problemas identificados devem ser significativos, partindo do conhecimento e das necessidades do educando e dos outros segmentos escolares. Os projetos devem ser planejados, executados coletivamente, assim como avaliados sistematicamente para retroalimentação, possibilitando a antecipação de decisões, novas relações ou inferência de novos problemas.
Um dos desafios do trabalho com projetos é o exercício da convivência, respeitando as peculiaridades do saber ser, conviver e fazer de cada indivíduo. O respeito às características pessoais e o enfrentamento dos desafios nas diversidades de visões, em busca de objetivos comuns, amadurecem o sentido da solidariedade humana tornando a consciência do homem, como ser inconcluso, algo importante à aprendizagem e participação pela vida afora.
Na organização dos projetos escolares, o professor, a partir de referenciais teóricos, construirá com os educandos um roteiro com método científico e outros que favoreçam a organização dos conhecimentos escolares em relação a: tratamento da informação; relação entre diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipótese que conduzam à construção e ressignificação dos conhecimentos; e a transformação da informação procedente da interdisciplinaridade em conhecimento próprio. A inter-relação entre conteúdos e áreas far-se-á pela necessidade de responder às questões propostas nos projetos, nunca de modo artificial, mas atento, o professor, à coerência da exploração interdisciplinar e contextual.
No planejamento das atividades pedagógicas, assim como sua execução e avaliação, o professor deve considerar, como eixos norteadores, a representação e comunicação, a investigação e compreensão e a contextualização sociocultural, como orientadores dos atos de ensinar e aprender (BRASIL, 1999).
Nessa perspectiva, a sistemática de avaliação, a ser proposta no Projeto Político-Pedagógico, deve levar em consideração as competências selecionadas, os conhecimentos construídos e ressignificados, o contexto espacial, as individualidades dos protagonistas escolares, detectando avanços e/ou retrocessos, a fim de propor mudanças. Os critérios de avaliação devem ser discutidos e definidos coletivamente. Ressalta-se a necessidade do exercício da auto-avaliação de todos, durante o processo.
Para efetivação destes Referenciais Curriculares, há necessidade de investimento do poder público na formação continuada do professor, para fortalecimento da sua ação pedagógica, no provimento de livros didáticos para uso do aluno, além da elaboração de livros-texto, que atendam às peculiaridades das áreas e das disciplinas além da melhoria de espaços físicos escolares como laboratórios, bibliotecas com acervo atualizado, videotecas, auditórios e outros.

CONHECIMENTOS EM SOCIOLOGIA

Considerações Preliminares

O presente Referencial consiste em redimensionar a importância da disciplina Sociologia, no contexto escolar, a fim de resgatar o seu significado na formação do educando crítico, consciente e participativo, garantindo os instrumentos teóricos necessários para a compreensão da dinâmica da sociedade contemporânea, com suas instituições sociais, ideologias e contradições e como proceder à intervenção nesta sociedade caracterizada pela complexidade.
A sistematização dos conhecimentos de Sociologia, permitirá uma discussão de maior alcance, incidindo sobre os mesmos, como disciplina do Ensino Médio no Maranhão. Esses conhecimentos deverão ser ministrados por profissionais com habilitação especificamente em Ciências Sociais.
O repensar da Sociologia, no contexto escolar, exige consciência da necessidade de abandonar as abordagens simplistas, utilitaristas, espontaneistas e reprodutivistas que têm caracterizado a prática de ensino, exigindo uma formação continuada do educador. Isto porque as relações que o aluno exerce em seu meio cultural favorecem o desenvolvimento de sua visão de mundo ao expressar-se, explorando o universo das linguagens, experenciando, desvelando o real e o imaginário e criando novos significados para a construção de novos saberes.
Quanto ao objeto de estudo dessa disciplina, diversos autores que trabalham o tema de forma diretiva consideram-no como o homem e sua relação com a sociedade. Entretanto, no estudo da literatura encontra-se uma diversificação teórica sistematizada por três teóricos, com seus respectivos conceitos fundamentais, a saber: a) análise do conceito de fato social, proposto por Durkheim; b) conceito de ação social enunciado por Weber; e, c) os conceitos de classes sociais, alienação e mais-valia formulados por Karl Marx” (CORRÊA, 2002).
O fazer pedagógico encaminha-se a partir da concepção de que o professor tem de seu objeto de estudo, orientando assim, a seleção e indicação de competências e habilidades, bem como todos os aspectos que corroboram no processo ensino-aprendizagem.
A apreensão do objeto de estudo requer a compreensão de conceitos fundamentais da Ciência. Dentre eles destacam-se: cultura, classe social, interação social, conflitos, e grupos sociais.
Considerando a importância dos conceitos e das categorias como um dos fatores para a compreensão da sociedade, ressignificação dos fatos e a percepção do educando como sujeito da construção e transformação dessa sociedade, justifica-se o tratamento desse conhecimento como disciplina que compõe a Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias.
A Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no inciso III, do § 1º, do Art. 36 expressa que o egresso do Ensino Médio deve demonstrar “domínio dos conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania”. A mesma referência, ressalta que a preparação básica para a cidadania, uma das finalidades do Ensino Médio, não é exclusiva do ensino da Sociologia, mas vale para todos os componentes curriculares, os quais deverão criar condições favoráveis para a construção da identidade social dos alunos, de forma protagônica. É também na Sociologia que os educandos vão perceber que a concepção de mundo, as idéias e os valores que as pessoas compartilham entre si são construídos no cotidiano das relações e inter-relações. As construções sociais resultam dos conflitos e dos consensos que se estabelecem na sociedade, são, portanto, as relações de poder e de violência física ou simbólica exercidos por alguns grupos ou classes sociais.
O saber sociológico torna-se necessário para a compreensão das mudanças sociais, com o aprofundamento de categorias como trabalho, interação social, sistemas sociais, estrutura social, cotidiano, instituições, fatos sociais, relações de gênero, cultura, dentre outras. A inclusão da Sociologia no currículo escolar como espaço privilegiado, proporciona a construção da cidadania. Neste sentido, o processo ensino-aprendizagem deve levar em conta os saberes e as potencialidades do educando, visto como um ser integral.
A Lei 9.394/96 estabelece [...] como uma das finalidades centrais do Ensino Médio a construção da cidadania do educando, evidenciando assim, a importância do ensino da Sociologia no Ensino Médio”. Nesse sentido, a preparação dos educandos deve considerar as mudanças socioculturais e econômicas ocorridas nos últimos 30 anos que trouxeram consigo o aparecimento da sociedade informacional e que repercutiram nos vários setores da vida social. Observa-se uma sociedade industrial, com predomínio do setor secundário e um crescimento do setor terciário em detrimento do setor primário, que está sendo substituído, de forma acelerada, por um novo setor em que a informação é a matéria – prima e o seu processamento é a base do sistema econômico. Neste aspecto, registra-se uma mudança no processo de produção e não no modo de produção, consta-se que o modo de produção capitalista é mantido, com suas premissas de máximo benefício, investimento e competitividade.
Dessa forma, o processo de globalização econômica tem gerado desigualdades, tanto em nível local como mundial, aumentando, de forma acelerada, a diferença do crescimento econômico, a capacidade tecnológica e as condições sociais. Percebe-se uma clara transformação caracterizada pela emergência de uma nova lógica de domínio e de poder econômico utilizada pelos países ricos na destruição dos bens da natureza, pela utilização de comunicação de massa, especialmente por meio de propagandas e pelo questionamento do Estado – Nação. Na forma como é conhecido, está sendo deslegitimado quer pela globalização, na economia, no crime, nos meios de comunicação, quer pela descentralização política, como fonte do desenvolvimento econômico. Sendo assim, o conceito de Estado-Nação, nos moldes como vinha sendo entendido na sociedade industrial, está se modificando. Na prática, o Estado – Nação vem estabelecendo novas formas de organização e novas funções.
O processo ensino-aprendizagem na disciplina Sociologia implica um estudo dialético, buscando compreender a relação que o homem estabelece com o meio social e cultural, sendo necessário garantir sua relação com as demais áreas do conhecimento, por meio de um processo interdisciplinar. É a oportunidade para problematizar, analisar, classificar e interpretar os fenômenos sociais, a partir da reflexão sociológica e do conhecimento produzido pelos teóricos desta ciência.
O ensino da Sociologia cria nas escolas um espaço de formação da consciência crítica, quando é garantida ao educando a construção de competências para a análise e a compreensão das relações sociais, das relações de poder, das ideologias e da diversidade cultural que contribuem para formação de uma sociedade mais complexa e diversificada.
Não se trata de uma disciplina voltada para o ajuste do educando à sociedade, mas uma disciplina capaz de contribuir para o fortalecimento de valores democráticos, autonomia, pensamento crítico e participação dos educandos no enfrentamento das questões reais na família, na escola, na comunidade e na vida social mais ampla. Além disso, a escola deve favorecer a realização de um conjunto de vivências para, que o educando possa ser sujeito de sua própria educação, construindo uma visão política sobre si mesmo e em relação aos outros de forma protagônica. Para a concretização dessas intenções, definiu-se que o ensino da Sociologia terá por objetivos gerais.

a) Contribuir para a reflexão sobre as mudanças sociais, usando a compreensão dinâmica da sociedade contemporânea.
b) Ampliar as experiências sensoriais e perceptivas, afetivas e intelectuais, oportunizando ao educando o entendimento dos direitos e deveres como cidadão protagônico.


Dessa forma, é necessário adotar métodos voltados para investigação, identificação, classificação e interpretação dos fenômenos sociais. A escola deve proporcionar os espaços educativos necessários para que o aluno (re) aprenda uma nova forma de ver, ordenar e construir o mundo, tendo como princípios básicos os direitos humanos, a responsabilidade pessoal e o compromisso social na realização do destino coletivo.

Competências em Sociologia

O ensino de Sociologia deve proporcionar ao educando o desenvolvimento de competências que possibilitem aguçar a percepção e o entendimento da sociedade, mediante a re-elaboração dos saberes, da interpretação e busca de soluções de problemas sociais pertinentes ao cotidiano.
As competências e habilidades devem ser reelaboradas pelos professores, considerando as necessidades do educando para a formação da cidadania.

Quadro - Matriz de competências e habilidades em Sociologia
COMPETÊNCIAS HABILIDADES

1. Compreender a Sociologia como ciência, seus fundamentos conceituais, métodos, e a relação destes com os principais teóricos.
1.1. Estabelecer a relação entre a Sociologia e as demais ciências.
1.2. Reconhecer a importância das teorias para subsidiar o entendimento da sociedade.
1.3. Utilizar conceitos e categorias das ciências sociais na leitura e interpretação da realidade social e dos problemas da vida cotidiana.


2. Compreender a organização da sociedade, por meio de grupos e instituições.
2.1. Compreender as relações existentes entre as diversas formas de organização social e suas conseqüências.
2.2. Reconhecer os interesses defendidos pelo Estado na sociedade.
2.3. Analisar o significado e as conseqüências da burocracia estatal para as sociedades.

3. Analisar os processos sociais que permeiam a vida em sociedade.
3.1. Reconhecer a necessidade de sociabilidade e da efetiva participação dos grupos na dinâmica social.
3.2. Analisar as conseqüências para o indivíduo e para a sociedade dos processos sociais.
3.3. Distinguir os aspectos inerentes às relações sociais através dos diferentes processos sociais.

4. Reconhecer a cultura como uma produção humana que é influenciada e influencia a sociedade.

4.1. Reconhecer o valor e a importância da cultura nas diferentes etnias para a formação da identidade cultural e a do patrimônio local, regional, nacional e internacional.
4.2. Analisar criticamente as formas de padronização, massificação e industrialização cultural e suas implicações.
4.3. Investigar e analisar a influência das culturas étnicas na construção dos códigos de linguagem;
4.4. Perceber a importância da tolerância cultural na construção de uma sociedade de direito.

5. Compreender as transformações no mundo do trabalho e o novo perfil de qualificação exigido pelas mudanças na nova ordem mundial.
5.1. Compreender as transformações no mundo do trabalho para explicar o reordenamento das relações sociais e produtivas.
5.2. Analisar o impacto das transformações sociais nas relações de trabalho.
5.3. Compreender e analisar os modos e relações de produção no desenvolvimento humano e tecnológico.
5.4. Compreender a interferência das condições econômicas, sociais e políticas na organização da sociedade.

6. Compreender as estruturas sociais que permeiam as sociedades e suas respectivas influências na dinâmica social.
6.1. Analisar as contradições existentes entre as relações indivíduo e sociedade.
6.2. Compreender a hierarquia de posição da sociedade a partir das relações político-sociais e econômicas.
6.3. Discernir as mudanças nas relações humanas produzidas pela revolução tecnológica.
6.4. Compreender os conceitos de alienação ideológica e classes sociais para explicar as desigualdades sociais;
6.5. Analisar as situações sociais que favorecem o surgimento de movimentos sociais.
6.6. Investigar e analisar os limites e as possibilidades de transformação social na realidade atual, contribuindo para a construção de um mundo com justiça e solidariedade.
6.7. Analisar criticamente os aspectos e problemas sociais da comunidade, de modo a propor soluções e intervenções sobre os mesmos.

Conhecimentos em Sociologia

Os conhecimentos apresentados a seguir contemplam os fundamentos estabelecidos pela LDB e pela Resolução CEB-03/98 que manifesta a efetiva busca da interdisciplinaridade, da contextualização e do aprendizado que prioriza a dualidade vida-trabalho, a fim de que as competências e habilidades planejadas sejam concretizadas.
O conjunto de conhecimentos propostos não é uma listagem de conteúdos para serem transmitidos pelos professores, pois os conhecimentos representam uma seleção de formas ou saberes culturais, isto é, conceitos, habilidades, linguagens, valores, crenças, sentimentos e atitude, essenciais no processo de consecução dos objetivos de ensino e um meio para o desenvolvimento de competências.
Conhecimentos

• A Sociologia como Ciência
- Origem, bases conceituais, objeto de estudo, etimologia, divisão, métodos das ciências e da Sociologia, principais teóricos.

• Grupos sociais, instituições sociais e processos sociais
- Bases conceituais, classificação, processos.

• Cultura
- Bases conceituais, classificação, processos, patrimônio cultural.

• Bases econômicas da sociedade
- Trabalho, modos de produção, relações de produção, globalização.

• Estratificação, mobilidade, mudança, movimentos e conflitos sociais
- Bases conceituais, classificação, características.

Valores e Atitudes

Os valores e atitudes, apresentados como sugestões, foram inspirados nos fundamentos estéticos, políticos e éticos para o Ensino Médio brasileiro, definidos pela legislação vigente. Os educandos assimilam internamente os princípios axiológicos transmitidos em todo o processo ensino-aprendizagem que podem modificar sua postura, isto é, sua forma de agir frente à própria realidade. Esta mudança comportamental é manifestada nas situações de aprendizagem, quando da aquisição das competências, habilidades e conhecimentos propostos.

 Desenvolver e demonstrar senso de identidade, de auto-estima, de autoconfiança, autodeterminação e auto-realização.
 Atuar, de forma criativa, construtiva, solidária, democrática e protagônica na solução de problemas reais, na família, na escola, na comunidade e na vida social mais ampla.
 Reconhecer e praticar atos relativos aos direitos humanos, respeitando as diferenças e as diversidades e eliminando qualquer atitude de preconceito e discriminação.
 Exercitar a responsabilidade pelo bem comum estabelecendo diferenças entre o público e o privado.
 Participar ativamente dos trabalhos realizados em sala de aula, reconhecendo potencialidades e limitações e buscando a consecução de objetivos comuns.
 Integrar e interagir com os outros de forma ética, criativa, construtiva e solidária, na realização de projetos individuais e coletivos, respeitando as características pessoais.
 Incorporar, de forma significativa, os conhecimentos de Sociologia no cotidiano, na visão de mundo e no próprio projeto de vida.
 Optar por uma postura crítica frente aos fatos e acontecimentos históricos, expressando argumentos e contra-argumentos na defesa de suas opiniões.
 Exercitar a responsabilidade pelos seus atos como forma de aprendizagem e articulação contínua para o crescimento pessoal e coletivo.
 Valorizar e proteger o meio ambiente e o patrimônio histórico cultural.
 Participar do processo de aprendizagem, manifestando interesses e propondo soluções criativas para a melhoria do ensino.
 Expressar-se com precisão por escrito e oralmente expondo o próprio pensamento e sabendo manejar símbolos, dados, códigos e outras formas de expressão lingüística, no processo de análise, síntese e interpretação de dados, fatos e situações relacionadas ao conhecimento de Sociologia.
 Priorizar o diálogo, a negociação e o respeito às regras, leis e normas estabelecidas, na defesa dos seus direitos e na solução de problemas ou conflitos interpessoais.
 Interagir criticamente com as diversas linguagens expressas nos meios de comunicação, criando formas novas de pensar, sentir e atuar no convívio democrático.
 Localizar, acessar e usar a informação acumulada, consultando bibliotecas, videotecas, centros de informação, documentações, publicações especializadas e redes eletrônicas.

Orientações Metodológicas

Ao estabelecer os métodos que nortearão a prática pedagógica no ensino da Sociologia, o professor deve considerar a escolha e organização dos conhecimentos propostos em função das competências e habilidades a serem desenvolvidas. O ponto referencial é a percepção dos níveis de desenvolvimento do aluno (afetivo, perceptivo, cognitivo e psicomotor) e suas influências sobre os saberes que já possui para a compreensão e interpretação das realidades apresentadas e seus contextos ou os que venham a ser construídos.
Os procedimentos devem possibilitar as adequações e graduações necessárias aos conhecimentos a serem trabalhados e ainda favorecer a problematização e superação das dificuldades apresentadas, o que irá incidir sobre as atividades e exercício de investigação, experimentação, criação e produção de novos saberes, imprescindíveis para a compreensão das metamorfoses sociais.
As orientações metodológicas propostas aos professores favorecem o resgate os saberes de outras áreas do conhecimento, por meio da interdisciplinaridade. Assim, os conhecimentos devem ser apresentados de forma que o aluno perceba o que há de comum e de diferente entre eles, num exercício de pensamento divergente. Esta atitude ultrapassa a visão de integração do todo e desencadeia um processo sincrético que favorece uma nova compreensão do objeto da disciplina.
O trabalho pedagógico a ser desenvolvido deve considerar que o descobrir, experimentar e pesquisar possibilita o fortalecimento da identidade cultural. Os professores devem, nas suas práticas, aplicar uma variedade de procedimentos metodológicos. Em seguida, apresentamos algumas sugestões que favorecem a realização das atividades e experiências de aprendizagem.

 Elaboração e realização de projetos interdisciplinares centrados nos temas de sociologia, antropologia e política, que possibilitem a compreensão da sociedade contemporânea.
 Construção de textos individual ou coletivos a partir da integração, observação e compreensão dos fatos sociais.
 Desenvolvimento de projetos de pesquisa participativos nas diversas comunidades.
 Leitura, interpretação de textos literários e científicos sobre os conhecimentos de sociologia, antropologia e política que promovam a reflexão, a intertextualidade, interdisciplinaridade e contextualização.
 Realização de seminários, oficinas e debates temáticos, que possibilitem a integração, compreensão e a troca de saberes sobre o processo de transformação da sociedade contemporânea.
 Articulação com os professores das disciplinas da área de Ciências Humanas e suas Tecnologias e as demais áreas do currículo do Ensino Médio para planejamento de atividades comuns, a exemplo dos projetos.
 Uso de livros didáticos e outros textos para apoio e aperfeiçoamento de temas.
 Realização de debates sobre filmes, documentários, shows, peças teatrais, palestras, visitas e outras atividades, que estabeleçam relações com o cotidiano, a escola e a sociedade.
 Aulas-passeio que oportunizem a observação, descrição e análise de diversas realidades sociais e culturais, selecionadas de acordo com os conhecimentos apreendidos e o interesse dos educandos.
 Entrevistas com pessoas engajadas nas diversas áreas do conhecimento, para aprofundar as análises sociológicas, antropológicas e políticas da sociedade atual.
 Pesquisa em bibliografias disponíveis nos diversos veículos de comunicação, obras complementares, textos, letras de músicas, jornais, revistas, vídeos e documentários educativos.
 Participação em eventos para ouvir e debater músicas de autores contemporâneos, analisando as letras e estabelecendo relações com sua própria vida, seus sentimentos e a realidade social do mundo em que vive.
 Participação em intercâmbios virtuais, salas de conferências, ‘chats’, aproximando os educandos de pessoas com reconhecida experiência nos assuntos.

A concretização dessas sugestões está vinculadas às condições físicas e ambientais da escola, na existência de salas de vídeo e de informática, bibliotecas com acervo atualizado, de recursos didáticos, professores habilitados em Ciências Sociais e em processo permanente de formação. Para garantir a efetivação deste referencial, espera-se uma nova postura do professor, para que a disciplina Sociologia cumpra seu papel na formação do educando. Neste sentido, o professor é o referencial em torno do qual a melhoria da qualidade do ensino se processará, expandindo-se ao intermediar os saberes da Sociologia com a realidade do aluno.
A avaliação no contexto da disciplina de Sociologia deve levar em consideração tanto o processo como o produto. No decorrer do processo, pode-se observar como o aluno interage com os outros, quais são suas dificuldades, como estão organizando suas experiências, quais e quantas tentativas de solução para os problemas foram pensadas e de que maneira são utilizados os materiais e os instrumentos. O educando precisa demonstrar também o seu envolvimento, empenho e interesse na atividade.
Sendo assim, a avaliação, não pode ser compreendida como um momento estanque das ações do processo de ensino-aprendizagem, mas sim está presente em todos os momentos, de forma contínua e sistemática, assumindo a função de estimular as construções do conhecimento, orientar as necessidades de adequações de acordo com o desenvolvimento individual e grupal, e demonstrar as dificuldades e conquistas. Esta concepção de avaliação valoriza todas as ações envolvidas nas inter-relações e na construção de novos conhecimentos. Entretanto é necessário evidenciar como os alunos aplicam os conhecimentos adquiridos e sistematizam as experiências vividas durante o processo, envolvendo a percepção, a emoção e o pensamento.