19 julho, 2011

CULTURA PROFISSIONAL DO SOCIÓLOGO

TÓPICOS DE UM DEBATE NO SINDICATO DOS SOCIÓLOGOS DO RIO DE JANEIRO

Aproveitamos a oportunidade para relatar os ardis na construção de um perfil profissional para os Sociólogos egressos dos cursos de Ciências Sociais, especialmente em São Luís/MA. Após mais de 25 anos de curso - com professores lotados no Departamento de Sociologia e Antropologia (com mais de 35 docentes), concursados com diplomas em Teologia, Psicologia, Pedagogia, História, Filosofia, Assistente Social, Medicina, etc., - não conseguimos criar um Estágio de Bacharelado condizente com os anseios dos estudantes, com as exigências da Lei e das Normas do MEC. 
Como não há campo de estágio - em função de mais de 25 anos de desinteresse pela formação profissional - os discentes são direcionados para os Grupos de Pesquisas dos Professores; o que na prática significa serem condicionados a só ter como opção seguir uma carreira acadêmica na Pós-Graduação. 
A mentalidade dominante é aquela que defende que a Sociologia deveria ser uma disciplina academista, oferecida no Ensino Superior; nada de ser uma carreira profissional, ou até mesmo, nada de ser oferecida no Ensino Médio. 
Quando Associações Científicas, como a ABA, desprestigiam os diplomas em Ciências Sociais, e até mesmo em Antropologia, e em Sociologia, dá o sinal para os estudantes que possuir diplomas destes cursos é indiferente. Difunde-se assim uma mentalidade academista, intelectualóide, anti-profissional, em que os egressos nunca são colocados em contato com outras, e novas, opções e possibilidades profissionais.  
O 'academismo' nos parece um escudo que se usa para encobrir práticas duvidosas, pois é exercício de poder simbólico a partir de capital cultural acumulado por pouquíssimos; quase sempre como estratégia carreirista. Se não se estabelecem regras e códigos universalizantes de acesso as competências e as habilidades, com a conseqüente definição adequada de pertinências profissionais, instauramos um quadro de indefinições muito pernicioso... Não queremos ser formalistas, mas temos assistido a um verdadeiro vale-tudo; sob o disfarce da inter/multi/disciplinaridade, transversalidade, etc. É uma mascarada academista; sem querer ser desagradável - não estamos tratando aqui de casos particulares, mas de dominantes psicossociais... 
Tal ideologia é ardilosa e tem nos lançado num labirinto sem saída, já que os egressos dos cursos de bacharelado não conseguem construir um perfil profissional (é só perceber a dificuldade da sindicalização). Para os academistas um Sindicado dos Sociólogos é uma aberração: - Intelectual acadêmico é um "espírito livre"! Desqualifica-se a luta profissional, em nome de um "pesquisador flaneur". Isso até pode ter algum glamour boêmio, e funcionar nos botequins da vida, mas e os bacharéis que querem ter um ofício sociológico e sustentar a si, a seus filhos e a sua família?
Sinceramente, tal estado de coisas é lamentável e nossa complacência com isso, - que no fundo é uma cumplicidade pequeno-burguesa - já chegou ao limite do paroxismo! 
Assistimos, há décadas, essas (im)posturas; especialmente quando, de modo cínico, se diz que a Sociologia não é profissão, é um saber; mas quando interessa é "muito profissional" e "tecnocrática"! (...)
Não temos ainda posição firmada sobre a questão dos Conselhos (Regionais e Federal) ou Sindicatos; para nossa profissão. Gostaríamos, no entanto, de continuar contribuindo para o debate introduzindo mais alguns aspectos - particularmente relacionados as possibilidades de criação e difusão de uma 'cultura profissional' para o sociólogo. 
Nossa experiência em Coordenação de Curso de Graduação em CS, por duas oportunidades, nos fez conhecer, e ter que refletir, problemas que nunca tínhamos pensado; mesmo depois de quatro anos de formação no IFCS/UFRJ (aliás, um curso que, na época, foi levado sem qualquer compromisso profissional, por grande parte dos docentes). Quando pensamos nisso, lembramos de Maurício Tragtemberg e seu texto 'A Delinquência Acadêmica'... Aquelas atitudes negligentes dos docentes - salvo raras e heroicas exceções - em relação ao Curso e a formação dos discentes, é muito lamentável! 
Bem, mais desculpando os excessos no peso das palavras mais críticas, consideremos os seguintes aspectos:     

1. Queremos ser 'Profissão'?

Nossos alunos que gostam de Sociologia, e que não vão seguir carreira como docentes de nível médio ou superior, têm tomado algumas atitudes interessantes. Eles continuam o curso e tem apego a disciplina, contudo, como não encontram compromisso profissional dos docentes (totalmente desorganizados como categoria profissional), resolvem fazer outro curso de graduação. Assim, temos nossos alunos cursando, as vezes simultaneamente, Contabilidade, Direito, História, Pedagogia, Psicologia, etc. Cursos que têm 'cultura profissional' já estabelecida. Nossos alunos então procuram compensar essa angústia de gostar de um Curso, sem cultura profissional, cursando outro que lhes dá essa segurança. Resultado disso, é a difusão de uma mentalidade em que a Sociologia se confunde ainda com um tipo de Filosofia Social; ou algo como uma cultura de Humanidades, a qual nossos alunos se vêm atraídos por alguma vocação, mas que não desenvolve profissionalmente. Sociologia se torna um tipo de hobby, um requinte intelectual, um papo interessante para as festinhas da Universidade...

2. Empresa Júnior de Sociologia (EJ): é possível?

Outro ponto interessante é o que concerne a possibilidade de criar uma E.J. A maioria se pergunta: mas como? Sociólogo serve pra quê? Pergunta que se faz durante o transcorrer do próprio Curso! Até professores do Curso dizem que isso não é possível, e que não tem nada a ver criar uma E.J. Mas, quantas oportunidades profissionais uma EJ não abriria para os estudantes? Pesquisa de mercado, de opinião, de assessoria política, eleitoral, projetos de gestão, levantamentos de dados, etc. 
No tempo em que era Coordenador, comerciantes e empresários, vinham propor esse tipo de trabalhos! Mas, o intelectualismo e o academismo, bloqueavam, e bloqueiam... Até hoje já houveram 3 EJ's que desaparecem por falta de apoio dos docentes. A título de ilustração, o estágio de bacharelado é atualmente dirigido por uma Psicóloga, com formação em Psicanálise!

3. O que fazer?

Esse quadro é desalentador, pois é difícil criar uma cultura profissional enfrentando uma contra-cultura profissional; cultivada pelos próprios docentes. A cultura anti-profissional é muito poderosa, em nossa área. Caso não haja uma definição mais específica para a atuação do profissional, e, - de modo mais corporativo mesmo -, não se desenvolver essa cultura, continuaremos vivendo esse cenário de indefinição; difundindo uma mentalidade 'intelectualista' e pseudo-academista. Tendo em vista que a indefinição quanto as competências e as habilidades profissionais se perpetue, os alunos e estudantes continuarão considerando a Sociologia um tipo de conhecimento diletante, humanístico, etc. Essa é a questão a ser enfrentada; ou assumimos a Sociologia como pesquisa, docência e TAMBÉM, profissão, ou desistimos de tentar cultivá-la como 'profissão'. Nessa última opção, não é preciso Sindicato ou Conselho, pois professor tem seus sindicatos, e o pesquisador, responde pelos Conselhos de Ética da pesquisa; nas associações científicas... Caso consideremos a possibilidade real de uma profissão de sociólogo, como uma profissão autônoma e liberal (no sentido profissional), então, temos que trabalhar, e muito, para a difusão de uma cultura profissional do sociólogo (tarefa que parece ser exclusiva dos sindicatos). Nessa escolha, devíamos produzir vasto material de difusão de uma cultura profissional do sociólogo, recolhendo experienciais internacionais; promovendo, de modo intenso e massificador, nosso trabalho profissional. Esse é o desafio: superar a fase intelectualista e academista da disciplina, e dar o salto de qualidade para a atuação profissional.

4. O tema do debate: a profissão de Sociólogo é impossível? 

Ela é possível nessa sociedade? Ou trata-se de uma atividade ou disciplina científica e intelectual, sem utilidade profissional concreta? Sociologia pode ser uma atividade profissional? Um sociólogo pode ser produtivo; ou sua visão crítica de tudo atrapalha e é improdutiva? Quem pode exercer um trabalho sociológico? Qualquer um? Precisa ou não de diploma de bacharelado? Temos uma lei federal, desde 1984: diferentemente do 'antropólogo' e do 'politicólogo'... Mas, muitos de nós ainda não ofereceram a resposta adequada a estas questões essenciais. Aliás, na verdade, não querem, e nem desejam respondê-las... daí o conformismo... Em termos teóricos seria bem interessante retomar as ideias de Immanuel Wallerstein, especialmente as reflexões contidas na obra que tem o sugestivo título O Fim do Mundo como o Concebemos: a Ciência Social para o século XXI. De algum modo devemos 'impensar' os cânones de nossa disciplina e superar esses impasses. Pode ser que, na verdade, a profissão de 'sociólogo' seja impossível! Ao menos no contexto em nos encontramos inseridos... Mas, pode ser que seja possível; todavia, sobre outro patamar de atuação...
Saudações sociológicas! 
Alexandre F. Corrêa

(...) Contribuição ao Debate:

Gostaria de responder algumas questões e levantar outras tendo em vista que sou um Sociólogo Profissional há seis anos no mercado. A pergunta sobre se queremos ser profissão já denota que sua experiência com a Sociologia se limita à academia. Visto que nós já somos uma Profissão bem reconhecida e com respeitáveis salários tanto no Brasil como no exterior. O que acontece é que como existe uma negação da academia as demandas do mercado a maioria dos nossos colegas se formam como analfabetos funcionais em Sociologia. Desta maneira não conseguem emprego na área ou bons salários pelo simples fato de desconhecerem as aplicações básicas da Sociologia. Por exemplo, boa parte dos Sociólogos formados cursou somente Estatística I enquanto que no mercado profissional da Sociologia é esperado que um Sociólogo saiba bem tanto Análise de Dados Nominais como Análise Exploratória de Dados, incluindo os softwares aplicáveis, como o SPSS, Minitab, Geoda, SAS, etc. De fato vários Sociólogos hoje são dotados de dupla graduação, onde me enquadro. Alguns cursam Sociologia somente como um requinte intelectual. Mas aqueles Sociólogos de dupla formação que atendem a demanda do mercado, trabalham como Sociólogo, visto as boas oportunidades de emprego e de salário. A minha opção pela Sociologia, ao invés do Direito, se deu por esse fato. Tive melhores oportunidades de trabalho e salário que a maior parte dos meus colegas que fizeram Direito, inclusive os concursados. as exceções são raras. O salário inicial de Sociólogo é maior do que o de um recém formado em Direito atualmente. Vários amigos com formação dupla em Sociologia e outros cursos estão no mercado como Sociólogos pela mesma razão. Mas seus currículos apresentam matérias eletivas reconhecidas pelo mercado, como Marketing e métodos quantitativos, assim como passaram pela Empresa Junior ou Núcleos de Pesquisa de outros departamentos que estão ligados ao mercado. 

EMPRESA JUNIOR EM SOCIOLOGIA

Garanto que a Empresa Junior hoje já não é uma questão para ser debatida, mas sim a primeira possibilidade de inserção no mercado daqueles que desejam atuar como Sociólogos. Muitas vezes a única oportunidade para aqueles que chegaram à faculdade oriundos de classes sociais menos privilegiadas. Hoje uma graduação de Ciências Sociais sem Empresa Junior é uma instituição fora da realidade. Em nossa empresa a seleção dá preferência aos formandos que passaram pela Empresa Junior. A cultura profissional de Sociologia já existe, principalmente com a ascensão dos setores de Marketing, Recursos Humanos, Redes Sociais, Responsabilidade Social, Pesquisas Eleitorais e de Opinião, Políticas Públicas e outros onde dominamos e comprovamos ter competência estabelecida. Este discurso acadêmico anti-profissional é meramente político e desconectado da realidade do mercado, além de totalmente irresponsável. Eu conheço professores acadêmicos e colegas com esse discurso, mas que vieram a necessitar dos serviços dos Sociólogos Profissionais. Os salários e carreiras na nossa área somente são bons e competitivos com outras profissões pelo fato de que poucos Sociólogos saem devidamente qualificados da academia para atender ao mercado. Quantos colegas vocês conhecem que são capazes de analisar uma regressão linear? Quantos bacharéis são formados sem nunca ter visto um laudo antropológico utilizado em processo de demarcação de território indígena ou quilombola? O problema da profissão não está no mercado, mas sim na formação acadêmica do Sociólogo. No fim os cursos de graduação só dão base para a licenciatura. O bacharelado é outro perfil - quem não tiver visão ou orientação durante a graduação perdeu a chance de ser um profissional. Assim no momento o bacharelado produz alguns poucos futuros professores universitários, mas sem qualquer experiência profissional - requisito este indispensável em profissões como Direito, Medicina e Engenharia nos quais o profissionalismo é valorizado. 
Att., Alessandro Farage Figueiredo.

13 julho, 2011

Prática de Estudantes de Licenciatura em Sociologia é Destaque no Portal do Professor

"Uma equipe de 16 estudantes do curso de licenciatura em ciências sociais da Universidade Federal de Viçosa (UFV) atua, desde março de 2010, em duas escolas públicas daquele município da Zona da Mata mineira. 
A participação deles está ajudando professores não formados na área a consolidar a disciplina de sociologia na educação básica, já que as escolas de Viçosa não contam com professores de sociologia formados em ciências sociais. Sua atuação ocorre nos três anos do ensino médio das escolas estaduais Effie Rolfs e Raimundo Alves Torres (Esedrat), sob a coordenação do professor Diogo Tourino de Sousa, da UFV.
A estudante Mariana de Lima Campos, integrante do 6º semestre de ciências sociais, conta que o programa tem incentivado os alunos do curso a optarem pela licenciatura, associando pesquisa e ensino na construção de novas técnicas de abordagem da disciplina, bem como no desenvolvimento e elaboração de material didático. “Antes do programa, era quase consensual nos cursos universitários que os “bons alunos” fossem direcionados para o bacharelado, com a finalidade de atuarem em pesquisas, trilhando um caminho futuro na pós-graduação, sendo que aos demais, considerados “maus alunos”, restava a docência”, analisa Mariana.
Ela explica que uma das metas do programa é a busca por novas estratégias de abordagem da sociologia em sala de aula, fugindo da tradicional aula expositiva. Segundo ela, a equipe tem liberdade para pensar, discutir, criar, oferecer propostas aos professores supervisores dos dois colégios, bem como de aplicar inovações na prática de ensino. A percepção geral do grupo sobre o andamento das aulas apontou a necessidade do uso de outras metodologias de ensino, com o objetivo de envolver um maior número de estudantes. “Foi assim que pensamos na elaboração de um jogo de tabuleiro”, relata a universitária.
Originalmente pensado como uma forma de reverter a apatia de alguns alunos da Esedrat, durante as aulas de revisão do bimestre, o jogo foi confeccionado de maneira artesanal numa cartolina, tendo como ponto de partida o “mundo antigo”, representado graficamente por um castelo medieval, e como ponto de chegada o “mundo moderno”, representado por uma grande cidade. Antes de cada jogada, os participantes organizados em duplas ou trios, deveriam lançar o dado. Assim iam avançando, passando por casas e etapas representando as conquistas, problemas e desafios do mundo moderno, como as invenções científicas, a transformação das relações, os impactos ambientais, a favelização, entre outros. No percurso existiam casas com perguntas sobre os autores discutidos nas aulas de sociologia e, caso os alunos acertassem as respostas, teriam direito a jogar o dado novamente.
Como os resultados foram muito positivos, com um grande envolvimento dos alunos, a equipe de professores resolveu ampliar a experiência, elaborando outros jogos para serem adotados em outras turmas do projeto. “De forma geral, os estudantes conseguiram esclarecer o conteúdo ministrado no bimestre de maneira lúdica, sem sentir a aula como monótona”, diz Mariana.
Ela salienta que, no início do programa, os bolsistas não tiveram uma boa impressão, nem do modo como os alunos recebiam as aulas de sociologia, nem do modo como a disciplina era trabalhada nas escolas. “Parecia que a disciplina não tinha uma abordagem científica”, avalia. Em sua opinião, os estudantes e os professores de outras disciplinas tendiam a ver a sociologia como o espaço do “achismo”, lugar da opinião sem ciência.
“Logo constatamos que se tratava de uma etapa da própria consolidação”, destaca Mariana. “Percebemos que o trabalho da equipe começou a surtir efeito, despertando a atenção dos alunos, seu envolvimento, sua familiaridade com os bolsistas”, adianta a futura professora. E isso, no seu entender, mostra como o ensino de sociologia tem um futuro promissor, a partir do momento em que universidades, escolas, estudantes e professores forem capazes de construir redes de troca de experiências e materiais didáticos. “Uma de nossas tentativas nesse processo tem sido a manutenção de um blog da licenciatura em sociologia na UFV, canal onde relatamos o trabalho desenvolvido.
Os universitários são bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC)."

(Fátima Schenini - Jornal do Professor/ MEC)
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